sábado, 10 de março de 2012

CERÂMICA MARAJOARA


A arte Marajoara, assim como a arte dos povos pré-históricos de maneira geral, é vista por arqueólogos como meio de comunicação de valores, idéias, status social, filiação (a um grupo social), mitologia e cosmologia. Nesse sentido, a decoração cumpre o papel de integrar aqueles objetos a um contexto de relações que são, antes de tudo, sociais. Pode-se dizer, então, que manifestações artísticas pré-históricas são linguagens, não devendo essas linguagens serem confundidas com linguagens escritas, em princípio. Na arte Marajoara, que se conhece principalmente através da cerâmica, percebe-se a utilização de uma linguagem iconográfica, onde as idéias são representadas através de grafismos cujas formas são inspiradas na fauna local. Cobras, lagartos, jacarés, escorpiões, tartarugas, emprestam suas formas para compor desenhos onde espirais, triângulos, retângulos, círculos concêntricos, ondas, ziguezagues se encontram de maneira harmoniosa e previsível, indepente da técnica utilizada. O estudo desses ícones e sua combinação permite que se identifique nos grafismos os animais ali representados, possivelmente seres mitológicos ou sobrenaturais.
A cerâmica Marajoara é extremamente resistente e as técnicas decorativas utilizadas são complexas. Conhece-se cerca de 15 diferentes técnicas de acabamento, que combinam de maneira variada o engobo branco e vermelho, incisões, excisões e pintura. Além disso, utilizava-se a modelagem de partes de animais ou mesmo faces humanas para compor apliques e apêndices em pratos, tigelas, vasos e banquinhos. As formas de vasilhas e objetos produzidos são muitas. Pode-se na verdade enumerar as mais comuns, mas existem muitas variações e sempre nos surpreendemos com alguma nova forma ou objeto diferente que surge de uma escavação ou coleção. Conhece-se: urnas funerárias, vasos, tigelas, garrafas, torradores, inaladores, pratos, banquinhos, estatuetas, tangas, pingentes, adornos labiais, tortuais de fuso, etc. Todos estes ocorrem em vários formatos e tamanhos.
Dentro do estilo Marajoara, existem sub-estilos que se distribuem por diferentes regiões na Ilha. Estes sub-estilos ainda não foram bem estudados, principalmente pela falta de pesquisas arqueológicas e o fato de que o material que provêm de coleções é em geral muito mal documentado. Mas percebe-se que na região do rio Anajás prevalecem as urnas grandes, pintadas, como a que apresentamos na entrada deste site. No lado leste da Ilha, as urnas excisas com lagartos e as urnas femininas decoradas com incisões sobre engobo branco e pintura vermelha são as mais freqüentes. A distribuição de sub-estilos estaria relacionada com diferenças sociopolíticas entre as regiões. A arte, nesse sentido, pode ser usada para caracterizar, diferenciar e entender relações entre agrupamentos sociais geograficamente separados, mas culturalmente relacionados.



Denise Pahl Schaan 
nasceu em 1962, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Graduou-se em História em 1987 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e recebeu o título de Mestre em História, Área de Concentração Arqueologia Amazônica, pela Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) em 1996. Sua Dissertação de Mestrado, um estudo detalhado da coleção de cerâmica Marajora "Tom Wildi", foi publicada em 1997 pela editora da PUC/RS. Intitulada "A Linguagem Iconográfica da Cerâmica Marajoara", a obra aborda os grafismos da cultura Marajoara a partir de uma metodologia estrutural, mostrando que ícones representando a fauna da Ilha de Marajó eram usados para veicular messagens sociais sobre mitologia, parentesco, e status social.
Em 1997, Denise mudou-se para Belém do Pará, para realizar estudos com as coleções de cerâmica Marajoara do Museu Paraense Emílio Goeldi. Lá, ela dedicou-se também a estudar a ocupação pré-histórica na região do alto Rio Anajás, centro da Ilha de Marajó. Em seis anos de pesquisas, Denise Schaan descobriu e estudou nove novos sítios arqueológicos da cultura Marajoara, dirigindo dois extensos projetos de pesquisa. O primeiro, com financiamento da AHIMOR - Administração das Hidrovias da Amazônia Oriental, fez parte dos Estudos de Impacto Ambiental para a construção da Hidrovia do Marajó (1999 a 2001). O segundo, intitulado "Lost Civilizations of the Amazon" (Civilizações Perdidas da Amazônia) (2000-2002), é financiado pelo Instituto Earthwatch, e tem como objetivo entender a ocupação pré-histórica no alto rio Anajás a partir de uma perspectiva regional. Como resultado desses projetos, diversos artigos e capítulos de livros foram publicados e trabalhos foram apresentados em congressos no Brasil e nos Estados Unidos.



LINK DESTA POSTAGEM:  http://www.marajoara.com

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