Apesar da tentativa de diálogo entre lideranças do PT e PMDB, a sucessão
de Sérgio Cabral no Rio de Janeiro continua sendo o “grande nó” da
aliança prioritária firmada entre os dois partidos, com o objetivo de
reeleger a presidente Dilma Rousseff em 2014. Em jantar oferecido pelo
vice-presidente Michel Temer, na segunda-feira, no Palácio do Jaburu, os
peemedebistas evitaram discutir o assunto. Já os petistas colocaram a
candidatura do senador Lindbergh Farias como “certa”.
O silêncio dos peemedebistas sobre o tema foi motivado principalmente
pela crise de imagem enfrentada por Cabral, que virou um dos principais
alvos das manifestações ocorridas em junho. Na avaliação dos colegas de
partido, o “derretimento” do governador coloca a sigla em desvantagem na
negociação com o PT neste momento. Por isso, os peemedebistas
resolveram deixar o assunto para depois.
No encontro, o líder do partido da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), foi um
dos únicos a lançar mão do discurso da parceria entre os dois partidos
no estado. E defendeu que o PMDB espera o apoio do PT neste momento. O
presidente do PT, Rui Falcão, rebateu o argumento e avaliou que seu
partido tem em Lindbergh uma candidatura mais “competitiva”.
O PMDB, no entanto, ainda se debate sobre que nome lançar. Parte da
legenda acredita que o vice-governador Luiz Fernando Pezão, já anunciado
como candidato pelo próprio Cabral, pode não ser a melhor opção. “É
muito difícil descolar a imagem de Pezão da imagem de Cabral”, disse um
dos participantes do encontro.
Diante disso, o PMDB avalia também o lançamento da candidatura do
secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que poderia encarnar a
principal bandeira do partido no Rio, a implantação das Unidades de
Polícia Pacificadora (UPPs).
Também participaram do jantar no Jaburu o ministro Aloizio Mercadante
(Educação), tido como nome certo na campanha de reeleição de Dilma, além
dos presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O encontro teve reforço ainda do
presidente do PMDB, Valdir Raupp, dos líderes do PT na Câmara, José
Guimarães (CE), e do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). Os
senadores Jader Barbalho (PMDB-PA), Wellington Dias (PT-PI), Romero Jucá
(PMDB-RR) e Eunício Oliveira (PMDB-CE) selaram a lista de convidados do
evento, que teve o objetivo de retomar as conversas sobre as realidades
nos estados.
As negociações tinham sido suspensas em junho, por motivo de viagens do
vice-presidente Michel Temer e também devido aos protestos que obrigaram
o governo a se empenhar em dar respostas às ruas.
No entanto, nem todas as disputas locais foram discutidas na reunião. Os
dois partidos planejam novas discussões até o fim do ano. Além disso,
Temer, Raupp, Mercadante e Falcão também terão um novo encontro nos
próximos dias, antes de se reunirem com Dilma para apresentar a ela um
diagnóstico detalhado sobre a situação da aliança em cada estado.
Bahia
A possibilidade de PT e PMDB reproduzirem na Bahia a aliança nacional
também é vista como remota pelas lideranças dos dois partidos. O
governador Jaques Wagner (PT) já anunciou apoio à candidatura de seu
chefe da Casa Civil, Rui Costa. O PMDB, por sua vez, apostará na
candidatura do vice-presidente da Caixa, Geddel Vieira Lima (PMDB), que
tem buscado apoio do prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto
(DEM).
A participação de Dilma no palanque peemedebista na Bahia também é
considerada impossível. Apesar de ter sido ministro do governo de Lula e
ocupar a vice-presidente da Caixa no governo petista, Geddel Vieira
Lima foi o personagem principal das inserções do PMDB no rádio e na TV
na semana passada. No programa, ele procurou exaltar os prováveis
adversários de Dilma, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
Para peemedebistas e petistas, a atitude de Geddel tem como base a
eleição de 2010, quando Wagner foi reeleito e o ex-ministro amargou o
terceiro lugar. “Nesse ponto, Geddel não deixa de ter razão. Palanque
duplo em 2010 não funcionou para ele”, disse um peemedebista presente ao
encontro.
Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, é certo que PT e PMDB estarão em lados opostos na
disputa pelo governo do Estado. Os dois partidos ainda pretendem
definir, no entanto, como a campanha nacional tratará os estados com
dois palanques para a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Na reunião de segunda-feira, as lideranças nacionais do PT e do PMDB
chegaram à conclusão comum de que é necessário dar início a um processo
para apaziguar os ânimos entre os dois campos políticos no estado, para
evitar constrangimentos mútuos na campanha.
Líderes locais, no entanto, se movimentam no sentido contrário,
ampliando a rivalidade. O PT investirá na reeleição do governador Tarso
Genro. Já o PMDB avalia dois nomes com fôlego para tomar o Palácio do
Piratininga, sede do governo: Germano Rigotto, que governou o estado
entre 2003 e 2007, e José Ivo Sartori, que administrou por dois mandatos
a segunda maior cidade do Estado, Caxias do Sul.
O fiel da balança poderá ser o PDT, que acabou vencendo a prefeitura da
capital com José Fortunati. O prefeito de Porto Alegre tem feito
movimentos que ainda deixam dúvidas sobre quem terá seu apoio e o
partido também está dividido. Os líderes mais tradicionais na legenda,
como Alceu Colares e Romildo Bolzan, guardam excelente relação com a
presidente Dilma Rousseff e lutam para levar o partido para o apoio à
candidatura petista. Já o deputado Vieira da Cunha fala em se lançar
candidato ao governo e, para isso, tem buscado apoio do PMDB local.
Ceará
Embora ainda não assumida publicamente, a candidatura do senador Eunício
Oliveira (PMDB) ao governo do Ceará é apontada como certa por seu
partido.
O apoio do PT, nesse caso, dependerá de quem obtiver a maioria do
partido no estado. De um lado está a ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne
Lins, presidente do partido no Ceará, que defende candidatura própria.
Já o líder do PT na Câmara, José Guimarães, quer levar o PT local para o
apoio a Eunício. Em troca, Guimarães terá a garantia de se candidatar à
vaga no Senado pela coligação.
Outro fator determinante para a aliança entre PT e PMDB dependerá da
atitude de Cid Gomes. Eunício ainda conta com a possibilidade formar
chapa com o PSB, mas essa definição só será anunciada em janeiro. “Ele
(Cid) nunca disse que não me apoia. Só que a gente combinou de só falar
sobre isso no ano que vem”, disse o senador.
Paraná
Já no Paraná, a indefinição tem se concentrado no PMDB. Parte da legenda
pensa em candidatura própria e defende o nome do senador Roberto
Requião como o mais indicado para a disputa. Outra parte, liderada pelo
ex-governador Orlando Pessuti, defende a aliança com o PT e sonha com a
vaga de vice na candidatura petista de Gleisi Hoffmann. Já a bancada
estadual é aliada do governador Beto Richa (PSDB), que pretende disputar
a reeleição.
“O PMDB tem que primeiro se definir no Paraná, para depois a gente ver
como é que fica com o PT”, avaliou o senador Romero Jucá, que esteve no
encontro.
Pará
Outra definição acertada no encontro foi a de que o PT apoiará a
candidatura ao governo do Pará do filho do senador Jader Barbalho
(PMDB), Helder Barbalho. Ele é ex-prefeito da segunda maior cidade do
Pará, Ananindeua.
A costura entre os dois partidos deixa a vaga para concorrer ao Senado
nas mãos do deputado Paulo Rocha (PT), absolvido no processo que
investigou o mensalão. A avaliação dos petistas é de que o deputado
Cláudio Puty, que havia manifestado sua intenção de disputar o governo,
não tem maioria dentro da legenda.
O apoio a Helder Barbalho, anunciado na reunião por Rui Falcão, já havia
sido sinalizado aos petistas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
Consenso
Embora as discussões sobre divergências tenham tomado a maior parte das
conversas, os pontos de consenso atingiram estados, como a Paraíba, onde
o PT apoiará a candidatura peemedebista do senador Vital do Rêgo.
Em Roraima os dois partidos já concordaram Dilma estará em dois
palanques: o da senadora Ângela Portela (PT) e o do senador Romero Jucá
(PMDB), que também cogita entrar na disputa.
Por Luciana Lima , iG Brasília