segunda-feira, 29 de abril de 2013

MARAJÓ E O PLANO FANTASMA


Com muita irritação enviei essa semana pedido de informações – por meio da Mesa do Senado Federal – à ministra chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Gleisi Hoffmann, sobre a verdadeira história do Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago de Marajó, lançado pelo ex-presidente Lula em 2006, numa grandiosa festa no município de Breves. O Plano previa investimentos em todos os setores. Perfeito no papel mereceu saudação do bispo da Prelazia de Marajó, Dom José Luiz Azcona, que ressaltou no documento a “transparência ética dos responsáveis”. Haveria uma revolução no maior arquipélago fluvio-marítimo do mundo, onde seriam investidos 2 bilhões de reais.
Nada aconteceu até hoje. Marajó continua com as mesmas mazelas contemporâneas: tráfico humano, prostituição infantil, ataques de piratas nas embarcações, desemprego, falta de infraestrutura, transporte precário, e tudo o mais que estamos cansados de saber. Entretanto, passados mais de seis anos, vejo que em uma reunião em Belém, o Ministério da Integração Nacional reencarnou o velho plano de Lula. De novo, agora em 2013, foram prometidos investimentos do governo federal, na ordem de 2 bilhões, em Marajó e região do baixo-Tocantins. Ora, o Plano Marajó já havia sido incluído no orçamento da União e deveria ter sido concluído até 2011. O que aconteceu?
Os paraenses estão cansados de embromação. Cansados de serem usados pelas máquinas de propaganda com promessas e mais promessas sem nenhuma consequência prática. E para piorar, logo depois vem a notícia de que o Ministério da Integração vai investir apenas 23 milhões em Marajó, na construção de sistema simplificado de abastecimento de água, e na fomentação de cadeias produtivas de açaí, leite de búfala e mandioca. Ora, faça-me o favor! O Poder Executivo tem trinta dias para responder à minha solicitação. Dependendo da resposta, posso pedir a intervenção do Ministério Público Federal para cobrar responsabilidades das autoridades governamentais.
Marajó é um tesouro nacional, e lá vivem cerca de 500 mil pessoas que merecem respeito e condições de vida dignas. Merece infraestrutura que vai garantir sua vocação turística natural. Podem me chamar de saudosista, mas como esquecer os grandes navios que saíam de Belém direto para Soure (“Presidente Vargas”, “Leopoldo Peres”, “Augusto Montenegro”, “Lauro Sodré” e “Almirante Alexandrino)? Só a viagem já era um passeio turístico inesquecível!
O Pará não pode se conformar! Eu acredito que só de propaganda o governo federal já investiu muito mais do que gastaria para tornar melhor a qualidade de vida em Marajó. Um retrato da ausência do poder público foi o naufrágio recente de uma embarcação, no qual morreram 14 pessoas. E eu fico imaginando a vida do comandante que não tem poder para dizer aos passageiros que saiam porque a lotação está completa e tampouco ordenar a retirada da carga que põe em risco a vida dos passageiros. Ele também acaba por ser vítima de tanta ignorância e descaso. Será indiciado por homicídio doloso, quando há intenção de matar. Mas, dolosa é a situação de Marajó. Dolosa é a omissão governamental. Dolosa e cruel é a propaganda estridente – paga com dinheiro público – e sem consequência.
O meu pedido de informação não foi apenas um ato legislativo. Foi um ato de natureza política e de protesto pela falta de respeito com uma região tão linda e tão rica e que poderia ser um dos mais belos cartões de visita do Brasil.

JADER BARBALHO

*Texto originalmente publicado no Jornal Diário do Pará no dia 28 de Abril de 2013.
 http://www.jaderbarbalho.com

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