28 de abril de 2013
Com muita irritação enviei essa semana pedido de informações –
por meio da Mesa do Senado Federal – à ministra chefe do Gabinete Civil
da Presidência da República, Gleisi Hoffmann, sobre a
verdadeira história do Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável
do Arquipélago de Marajó, lançado pelo ex-presidente Lula em 2006, numa
grandiosa festa no município de Breves. O Plano previa investimentos em todos os setores. Perfeito no papel mereceu saudação do bispo da Prelazia de Marajó, Dom José Luiz Azcona, que ressaltou no documento a “transparência ética dos responsáveis”. Haveria uma revolução no maior arquipélago fluvio-marítimo do mundo, onde seriam investidos 2 bilhões de reais.
Nada aconteceu até hoje. Marajó continua com as mesmas mazelas contemporâneas: tráfico
humano, prostituição infantil, ataques de piratas nas embarcações,
desemprego, falta de infraestrutura, transporte precário, e
tudo o mais que estamos cansados de saber. Entretanto, passados mais de
seis anos, vejo que em uma reunião em Belém, o Ministério da Integração
Nacional reencarnou o velho plano de Lula. De novo, agora em 2013, foram
prometidos investimentos do governo federal, na ordem de 2 bilhões, em
Marajó e região do baixo-Tocantins. Ora, o Plano Marajó já havia sido
incluído no orçamento da União e deveria ter sido concluído até 2011. O que aconteceu?
Os paraenses estão cansados de embromação. Cansados
de serem usados pelas máquinas de propaganda com promessas e mais
promessas sem nenhuma consequência prática. E para piorar, logo depois
vem a notícia de que o Ministério da Integração vai investir apenas 23
milhões em Marajó, na construção de sistema simplificado de
abastecimento de água, e na fomentação de cadeias produtivas de açaí,
leite de búfala e mandioca. Ora, faça-me o
favor! O Poder Executivo tem trinta dias para responder à minha
solicitação. Dependendo da resposta, posso pedir a intervenção do
Ministério Público Federal para cobrar responsabilidades das autoridades
governamentais.
Marajó é um tesouro nacional, e lá vivem cerca de 500 mil pessoas que
merecem respeito e condições de vida dignas. Merece infraestrutura que
vai garantir sua vocação turística natural. Podem me chamar de
saudosista, mas como esquecer os grandes navios que saíam de Belém
direto para Soure (“Presidente Vargas”, “Leopoldo Peres”, “Augusto
Montenegro”, “Lauro Sodré” e “Almirante Alexandrino)? Só a viagem já era
um passeio turístico inesquecível!
O Pará não pode se conformar! Eu acredito que só de
propaganda o governo federal já investiu muito mais do que gastaria para
tornar melhor a qualidade de vida em Marajó. Um retrato da ausência do
poder público foi o naufrágio recente de uma embarcação, no qual
morreram 14 pessoas. E eu fico imaginando a vida do comandante que não
tem poder para dizer aos passageiros que saiam porque a lotação está
completa e tampouco ordenar a retirada da carga que põe em risco a vida
dos passageiros. Ele também acaba por ser vítima de tanta ignorância e
descaso. Será indiciado por homicídio doloso, quando há intenção de
matar. Mas, dolosa é a situação de Marajó. Dolosa é a omissão governamental. Dolosa e cruel é a propaganda estridente – paga com dinheiro público – e sem consequência.
O meu pedido de informação não foi apenas um ato legislativo. Foi um ato de natureza política e de protesto pela falta de respeito com uma região tão linda e tão rica e que poderia ser um dos mais belos cartões de visita do Brasil.
JADER BARBALHO
*Texto originalmente publicado no Jornal Diário do Pará no dia 28 de Abril de 2013.
http://www.jaderbarbalho.com